quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Reunião de activistas das esquerdas

Amigos e camaradas,

A situação política em Portugal é um nojo. Os direitos vão-se reduzindo e a esmagadora maioria da população empobrece a olhos vistos. E ninguém poderá dizer onde vai parar esse processo; alternam-se as medidas nocivas com os anúncios ameaçadores.

A direita no poder, mesmo quando usa o nome de partido socialista, campeia por aí, à desfilada, telecomandada por Bruxelas e pelos “mercados”, ousando, cada vez com maior descaramento, aplicar medidas selváticas, fascizantes e genocidas.

A esquerda institucional não sai da sua rotina de discursos mais ou menos bem conseguidos, que ninguém ouve; de desfiles sempre iguais, todos os três meses, pelas avenidas; não tem um projecto credível de promover uma paragem no processo empobrecedor e, menos ainda, de o fazer recuar.

Perante a evidente ineficácia da esquerda portuguesa em geral, todos temos responsabilidade. E não consola nada saber que no resto da Europa a situação é semelhante.

Perante essa ineficácia, há que pensar, pesquisar, discutir e traçar novos objectivos, novos processos, que mobilizem, que coloquem as decisões das lutas na base e, nessas tarefas, cabe toda a esquerda, pertencente ou não a partidos.

Em Julho último, a propósito das eleições presidenciais, realizaram-se duas reuniões de militantes e activistas, para discutir o estado da esquerda portuguesa. E foi consensualizado que se iria continuar.

Queres entrar nessa discussão? Se estiveres disponível, diz.

Propomos sábado, 30 de Outubro, em local a designar.

Abílio Campos
António Alte Pinho
António Pedro Dores
Francisco Santos
João Pedro Freire
João Pestana
Jota Daniel
Luís Gobern Lopes
Luís Pereira
Manuel Gaspar
Maria Natália Nogal
Nuno Cardoso da Silva
Paula Montez
Rui Pedro Frias
Sofia Ganhão
Vítor Lima
(por ordem alfabética)

Manifesto Por um País Livre de Pobres

POBRES, NÃO!
ESTRANGEIROS, NUNCA!
ANARQUISTAS, JAMAIS!

Acabou, finalmente, a pobreza, a pedincha e a anarquia dos mesmos de sempre. Nasce uma Nova Sociedade, inspirada pelo pequeno grande Sarkozy e regida pela ciência aritmética dos mercados, pelas inspiradas leis da indústria, comércio e finança!

Agora, todos os pobres, todos os estrangeiros, os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados terão um rumo a seguir. Criaremos novas normas, uma nação nova, leis que todos terão de seguir, de forma ordeira e exemplar, segundo o modelo 2177-A do Diário da Republica - IIª série. Os pobres, os estrangeiros, os anarquistas e os demais, serão examinados cuidadosamente nos Laboratórios da Direcção Geral dos Assuntos Fiscais, para avaliar do seu estado físico, mental e, sobretudo, financeiro.

Os que merecerem a aprovação dos Serviços serão devidamente normalizados, desinfectados e hermeticamente fechados!

O critério fundamental para a aprovação prende-se com a saúde financeira de cada espécimen, de acordo com as seguintes regras:

1 – Só é permitida a estadia em Portugal, aos estrangeiros com emprego, que não tenham dívidas de qualquer espécie, como por exemplo, renda de casa, merceeiro, água, luz, telefone, prestações de carro e electrodomésticos. Também incorrem em expulsão os indivíduos de nacionalidade estrangeira que procurem eximir-se ao pagamento do transporte colectivo, da quota do seu clube de futebol ou qualquer outro pagamento.

2- Todos os pobres nacionais que não tenham emprego, ou incorram em dívidas descritas no ponto 1, perderão a nacionalidade portuguesa.

3 – Não é permitida a estadia em Portugal a indivíduos sem nacionalidade definida.

4 – Todos os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados, serão submetidos a exames periódicos por parte do Observatório de Segurança.

5 – Todos os indivíduos referidos em 4, que não corresponderem aos parâmetros estabelecidos pelo Observatório de Segurança, particularmente por representarem um perigo para a ordem pública e a tranquilidade dos espíritos ou se revelarem pobres, perderão a nacionalidade portuguesa.

Todos os indivíduos que sejam expulsos do país, terão direito a uma passagem de avião, só de ida.

Os processos de expulsão democrática serão integrados num nível de gestão industrial, organizada e gerida como uma fábrica de enchidos!!!

Expulsões, sim; mas muito humanas, com licença e autorização.

Expulsões, sim; mas homologadas pela ASAE e restantes organismos oficiais.

Expulsemos os pobres, os heréticos, os anarquistas e demais espécimen deste tipo e marchemos, cantando e rindo, com as carteiras recheadas!

Mais uma vez daremos o exemplo ao mundo. Construiremos um mundo asséptico e inodoro, onde não cabem os pobres, os estrangeiros se forem pobres, e todos os revoltosos. Todos aqueles que não dão garantias de solvabilidade não interessam à nossa Pátria.

Todos terão de se submeter às leis supremas do mercado.

Só importam os úteis, produtivos e rentáveis!

Direcção Geral da Colonização das Mentes

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A finta

Propus aqui, antes das férias, que juntemos esforços no sentido de promover um encontro da esquerda desalinhada. Ou seja, da esquerda sem dono nem compromissos de grupo.

Pelo meio, empolgado na entrega e generosidade que se lhe reconhecem, um companheiro de Matosinhos, aderente do Bloco de Esquerda, veio sugerir concerto de posições entre os que haviam participado na Assembleia de Activistas Por uma Candidatura de Esquerda – realizada em Lisboa, em 10 de Julho – e um grupo de subscritores bloquistas de um abaixo-assinado/apelo a uma candidatura.

Entretanto, o tempo foi passando e essa “urgência” dos subscritores - que dois meses antes haviam declarado expressamente não haver condições para uma candidatura de esquerda – revelou-se um mero descargo de consciência.
É por demais evidente que, grosso modo, os referidos subscritores não têm nenhum interesse e nunca manifestaram empenhamento sério numa candidatura que levasse o protesto social às Presidenciais 2011. Pelo que, pela parte que me toca, reconheço não haver condições objectivas para a afirmação de uma tal candidatura, conquanto as condições subjectivas indicassem essa possibilidade e essa necessidade.

Num historial de hesitações e/ou fintas dilatórias, seria impossível construir coisa nova em terra velha…
A esquerda portuguesa é uma merda – a velha e a “nova”… E a verborreia panfletária já não consegue ocultar a sua impossibilidade história em construir coisa que se veja e seja útil ao movimento social.

Como dizia hoje um amigo, em e-mail que remeteu a propósito da putativa candidatura: “Os portugueses à solta, quando se organizam, estruturam espontaneamente uma de três coisas e essas são: um bordel, um asilo, ou uma inquisição. Podem chamar-lhe o que quiserem, mas é sempre isso que sai tendencialmente. É preciso ter paciência. Porque a alternativa é proibir os portugueses de organizarem o que quer que seja e isso, evidentemente, contraria a liberdade de associação.”

A ironia aplica-se com acuidade ao folhetim deste processo. Entre o entrismo e os golpes palacianos, aquilo que resta da velha esquerda fossilizada não tem inteligência nem fulgor para revelar uma ideia nova que seja, um empenhamento sério que não decorra do espírito de seita, um gesto que a distinga dos velhos métodos e das tristes receitas.

Para esse peditório já dei. A construção de uma nova esquerda passa pela ruptura com as lógicas grupusculares, as poses esquerdofrénicas e os discursos inflamados de quem, ao fim de tanto caminho feito, não percebeu nada do que é essencial, eficaz e útil.

Estou em crer que a necessidade do encontro a que fiz referência no início, se manifesta ainda com mais premência. E que para um tal objectivo, sejamos claros, a esquerda da situação não conta.

Romper com o regime e as “comissões de melhoramentos” que, denodadamente, lhe têm vindo a passar a mão pelo pêlo, parece-me ser o único caminho que reconstrua a esperança de uma alternativa e revolucione os caminhos da intervenção política.

Se alguém se rever nestas ideias, parece-me haver condições para que a esquerda desalinhada se possa encontrar e reconhecer.

António Alte Pinho

Resposta de um bloquista à direcção do B.E.

A direcção política do B.E.
respondeu(!) aos bloquistas
Por uma Convenção Extraordinária...

A direcção política do Bloco de Esquerda não é homogénea na sua composição. É um somatório das correntes que representaram a "troika" fundadora do Bloco. É claro que, em dez anos, essas correntes foram-se modificando. Todas elas deixaram de se assumir como "correntes", embora "Associações", sendo notória a crescente influência da "corrente" proveniente da "UDP". Porque é assim, compreende-se melhor a peça que essa direcção política resolveu enviar, por mail, logo sem assinatura(s) visível(eis), a todos os signatários da petição por uma Convenção Extraordinária. Embora nunca o assumindo, quem sempre teve de cumprir com o "centralismo democrático", acaba por revelar essa influência nos momentos mais delicados.

Os meus camaradas da direcção política do Bloco, em especial os que gostam de dominar o "aparelho", como o José ensinou, têm muita dificuldade em saber o significado do Bloco como "partido-movimento" ... o BE não é um partido, no seu sentido tradicional do termo. É um movimento onde deveriam convergir correntes, grupos e movimentos sociais, numa pluralidade ditada pela intervenção nas lutas sociais, com ambição de se afirmar como alternativa socialista de poder! Parece que agora, o movimento foi-se, e fica, cada vez mais, o partido tradicional segundo os canones lenino-estalinistas ...

As eleições presidenciais têm tido essa virtude: põem a claro as intenções muito pouco democráticas da direcção do Bloco, e a falta de calma e serenidade que têm com quem exprime posições diferentes.

É injusto tomar a direcção do Bloco, toda por igual. Há diferenças no seu seio. Há, sim senhor! Há os que estão mortinhos por ver a divergência excluída, há os que mentem com todos os dentes que têm, mas também há os que ainda têm alguma paciência para o debate.

Infelizmente, a peça produzida pela direcção política, i.e., o secretariado do BE, parece ter um dedo mais forte dos que estão mortinhos por ver a divergência excluída ...

Pessoalmente não conheço nenhum bloquista que tenha pedido a Convenção Nacional Extraordinária, que compare Alegre a Cavaco Silva. Conheço, entre esses bloquistas, quem apoie Fernando Nobre, quem apoie Alegre, quem se prepare para votar em branco ou não votar ... mas comparar Alegre a Cavaco, não conheço! Mas, lá do alto, logo com uma visão mais abrangente, é possível que a direcção política tenha descoberto alguém!!!!

Quando há Convenções, só podem votar para a eleição dos delegados, quem tiver as quotas pagas. Mas para a petição, o secretariado conta 10% entre quem paga, quem não paga e até quem ainda está inscrito, embora já tenha efectivamente saído do Bloco. Mais uma vez, a direcção do Bloco, como direcção que é, tem o privilégio ter a única verdade na interpretação dessas coisas estatutárias ...

O secretariado do Bloco nunca esteve verdadeiramente interessado em discutir democráticamente as presidenciais. Desde a última Convenção que já tinha decidido tudo o que faria, daí para a frente ... compreende-se assim a declaração solitária e unipessoal do camarada Francisco Louçã num belo dia 19 de Dezembro de 2009 à TVI, comprometendo todo o BE com o apoio a Manuel Alegre!

Tudo o resto foi/é encenação ...

Por último, a minha posição sobre as presidenciais de 2011: aborrece-me ver o meu Bloco de Esquerda ao lado do partido de Sócrates no apoio ao mesmo candidato presidencial, Manuel Alegre. Eu até votei Alegre quando muitos da direcção do Bloco, diziam cobras e lagartos do candidato ... agora apoiam um Alegre convertido no que Soares era nas últimas eleições presidenciais! Não votarei Fernando Nobre, nem votarei Francisco Lopes ... gostaria que tivesse surgido uma candidatura das esquerdas, socialista e anti-capitalista! Resta-me tudo fazer, perante a miséria do cenário que temos, para derrotar a candidatura da direita, seja protagonizada por Cavaco Silva ou outro cromo dessa área política.

Vamos a ver o que é que os candidatos presidenciais farão, dirão, agirão no dia 29 de Setembro, dia da Jornada Europeia de Protesto contra a Austeridade ...

João Pedro Freire
Aderente do Bloco de Esquerda
Matosinhos
http://militantesocialista.blogspot.com/

NOTA: o que escrevi não é bem uma resposta à peça do Secretariado, até porque não lhe dou muita importância ... esperava mais!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Andanças gregas...

Tem sido sempre assim. Em cada viagem de recreio procuro ir mais além do roteiro turístico, aproveitando o estar e ver para perscrutar o lado menos óbvio do destino.

E foi assim na Grécia, particularmente em Atenas - que é onde tudo acontece nesse estranho país de contradições, entre a História, a beleza natural e uma miséria que se percebe na vida das gentes.

Atenas é uma cidade feia, suja, maculada pelo mau gosto arquitectónico, pelo caos urbanístico. Percebe-se não haver ali grande preocupação com a qualidade de vida dos cidadãos e, recorrentemente, surge a interrogação pertinente: que destino terá sido dado aos fundos comunitários que noutros países foram canalizados para a requalificação urbana?

Apesar de não me ter cruzado com nenhuma manifestação, nem haver sinal de qualquer "perigoso revolucionário" em cada esquina, há um sentimento latente de indignação e revolta pelo desgoverno dos políticos do poder. E uma estrutura psicológica receptiva a discursos de radicalização.

O Partido Comunista da Grécia (KKE), os grupos residuais do que resta da extrema-esquerda e os movimentos anarquistas - com algumas tradições no movimento operário -, adquiriram, nos últimos meses, um crescimento e influência assinaláveis, isolando os velhos dirigentes sindicais ligados ao PASOK, tradicionalmente o maior partido da "esquerda" grega, hoje no poder.

Nas ruas, a polícia não passa despercebida. Pelo contrário, afirma-se ostensivamente - e percebe-se o incómodo de quem passa -, exibindo metralhadoras e um aparato bélico mais próprio de uma qualquer ditadura latino-americana dos anos setenta...

O aparato e a pose arrogante, ao contrário do que alguém mais desatento possa aferir, não se destinam a dissuadir a criminalidade ou eventuais ataques terroristas, servem objectivamente para constrangir cidadãos e revelam o pânico que invadiu a liderança grega, da política à finança. E é o medo da revolta social que determina a presença policial, que nos faz remontar às imagens a preto e branco das memórias colectivas da ditadura dos generais.

Não fora a lógica grupal que domina a esquerda grega, o sectarismo endémico que a corrói como gangrena, e as respostas sociais à crise poderiam crescar e construir alternativa séria às políticas neo-liberais, abrindo até possibilidades de alastramento da revolta social a outras capitais europeias, largando lastro para um resposta global dos trabalhadores e dos povos num quadro de uma nova Europa.

António Alte Pinho

domingo, 5 de setembro de 2010

Solidariedade com o Sahara Ocidental

«O Sahara é como uma enorme prisão»

Os 14 activistas espanhóis agredidos em El Aaiún chegaram ao porto canário de La Luz, onde eram esperados por um grupo de 50 simpatizantes com panos e cartazes a favor da causa saharaui.

O barco em que viajavam os 14 activistas do colectivo pró-saharaui Sáhara Acciones que foram presos e espancados pela polícia marroquina no passado Sábado, dia 28 de Agosto, chegaram ao porto de Las Palmas da Grande Canária. No porto esperavam-nos um grupo de simpatizantes que empunhavam cartazes onde se apelava à realização de um referendo livre e democrático naquela que foi a última colónia de Espanha em África e que é ocupada há mais de 35 anos por Marrocos.

Os testemunhos dos activistas são mais que demolidores: “Não esperávamos medidas tão horríveis”. Afirmou Sara Mesa no momento do desembarque. “O Sahara Ocidental é como uma enorme prisão, onde a gente vive sob um clima de continua repressão”.

Segundo o testemunho de Anselmo Fariña “Atacaram-nos sem avisar, em particular com murros directos aos rins e ao rosto. Insultaram-nos e cuspiram-nos sem parar. Alguns companheiros estimam que deveria haver mais de uma centena de polícias à paisana. Vários deles seguiam-nos desde a nossa entrada no território e inclusive no trajecto de regresso”.

“Ninguém se preocupava com o que estava a acontecer nos territórios ocupados. Chegavam-nos relatos de que muitas mulheres e crianças saharauis eram espancadas e o resultado era muitos hematomas e muita cara ensanguentada. Queríamos denunciar essa repressão que sofre o povo saharaui e acabámos por o viver nas nossas próprias carnes”, acrescenta Anselmo Fariña, professor na ilha de Tenerife.

Membros do grupo anunciaram a intenção de denunciar o tratamento brutal da polícia marroquina nestes incidentes, O grupo de cinquenta militantes que os recebiam e os 14 activistas regressados gritavam bem alto: “Marrocos culpado, Espanha responsável” e “Sahara Livre”.

Informação divulgada pela Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental com base em informação da imprensa espanhola

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Tomar a iniciativa por um novo olhar de esquerda

Goraram-se todos os esforços para convergir, a várias vozes, na construção de uma candidatura presidencial da esquerda que não se rende. Não sendo uma tragédia – até porque a participação em eleições é um mero pormenor de uma intervenção necessariamente mais vasta -, tal facto leva-nos a reflectir sobre os caminhos da esquerda portuguesa, particularmente daquela que se auto-define como “anti-capitalista” e “anti-autoritária”.

Desde logo, percebe-se nas entrelinhas de todo o processo de debate consubstanciado na polémica com palco nas redes sociais, bem como em duas reuniões abertas realizadas em Lisboa, que a lógica grupista e o discurso panfletário dominam as práticas desta esquerda, fechada em si mesma e incapaz de saltar para o terreno social e para a vida das pessoas comuns.

A peregrina ideia, expressa por várias vozes, de que “temos de ajudar as massas” – um tique muito comum da esquerda grupal, refém da arquitectura residual das pequenas “seitas” [em decréscimo acelerado e sem qualquer possibilidade de crescimento], revela as circunstâncias endémicas e patológicas que obstaram ao surgimento de uma candidatura que levasse o protesto social às presidenciais.

Ninguém percebe que havendo condições como nunca para a construção de uma tal candidatura, que serviria até como factor de clarificação da vida política e do papel da esquerda, não se tenham empreendido mais esforços no sentido de se convergir num programa mínimo e num nome que corporizasse esse programa e a contestação social às políticas anti-populares da coligação de interesses PS/PSD.

Do meu ponto de vista, esse objectivo não foi alcançado porque o essencial dos participantes no projecto assumiram - de facto - uma de duas posições, a saber:

1. Tentar fazer passar o candidato grupal, ajudado por “coligação” mais vasta.

2. Impedir a construção de qualquer candidatura, para não ferir interesses estratégicos de participação, nomeadamente no interior do Bloco de Esquerda, evitando o gérmen da dissensão que colocasse o ónus “divisionista” como argumento para o definitivo isolamento dos grupos e das facções que ali intervêm.

Ora, estas práticas calculistas, ao contrário de ancorarem numa cultura de esquerda, não são mais do que o mimetismo das lógicas da “grande política”, factor comum às “esquerdas” e à direita e coluna vertebral da cultura sistémica que tem matado o debate político, destruído os princípios e obstado a construção de práticas de intervenção em ruptura com este regime.

A Assembleia de Activistas, realizada em Julho passado, deliberou no sentido da organização de uma plataforma que unisse as várias esquerdas (não sistémicas) para o debate e intervenção política. A esta distância – e até pelas razões acima expressas – não me parece que tal plataforma tenha qualquer possibilidade de êxito no quadro gravitacional das pequenas seitas. Mas já faria sentido a realização de um encontro mais amplo de activistas sociais e de militantes de esquerda desalinhados, bem como a construção de um projecto editorial que tenha a coragem de romper com a velha esquerda e com as práticas grupais, entristas e panfletárias.

É esta proposta de trabalho que me permito colocar à consideração das companheiras e dos companheiros que nela se revejam.

António Alte Pinho
Foto: JJ LUZIA HENRIQUES