A peregrina ideia, expressa por várias vozes, de que “temos de ajudar as massas” – um tique muito comum da esquerda grupal, refém da arquitectura residual das pequenas “seitas” [em decréscimo acelerado e sem qualquer possibilidade de crescimento], revela as circunstâncias endémicas e patológicas que obstaram ao surgimento de uma candidatura que levasse o protesto social às presidenciais.
Ninguém percebe que havendo condições como nunca para a construção de uma tal candidatura, que serviria até como factor de clarificação da vida política e do papel da esquerda, não se tenham empreendido mais esforços no sentido de se convergir num programa mínimo e num nome que corporizasse esse programa e a contestação social às políticas anti-populares da coligação de interesses PS/PSD.
Do meu ponto de vista, esse objectivo não foi alcançado porque o essencial dos participantes no projecto assumiram - de facto - uma de duas posições, a saber:
1. Tentar fazer passar o candidato grupal, ajudado por “coligação” mais vasta.
2. Impedir a construção de qualquer candidatura, para não ferir interesses estratégicos de participação, nomeadamente no interior do Bloco de Esquerda, evitando o gérmen da dissensão que colocasse o ónus “divisionista” como argumento para o definitivo isolamento dos grupos e das facções que ali intervêm.
Ora, estas práticas calculistas, ao contrário de ancorarem numa cultura de esquerda, não são mais do que o mimetismo das lógicas da “grande política”, factor comum às “esquerdas” e à direita e coluna vertebral da cultura sistémica que tem matado o debate político, destruído os princípios e obstado a construção de práticas de intervenção em ruptura com este regime.
A Assembleia de Activistas, realizada em Julho passado, deliberou no sentido da organização de uma plataforma que unisse as várias esquerdas (não sistémicas) para o debate e intervenção política. A esta distância – e até pelas razões acima expressas – não me parece que tal plataforma tenha qualquer possibilidade de êxito no quadro gravitacional das pequenas seitas. Mas já faria sentido a realização de um encontro mais amplo de activistas sociais e de militantes de esquerda desalinhados, bem como a construção de um projecto editorial que tenha a coragem de romper com a velha esquerda e com as práticas grupais, entristas e panfletárias.
É esta proposta de trabalho que me permito colocar à consideração das companheiras e dos companheiros que nela se revejam.
António Alte Pinho
Foto: JJ LUZIA HENRIQUES