sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rosa Luxemburgo

Polaca, nascida em 5 de Março de 1871, envolveu-se desde muito jovem em actividades estudantis, lutando contra o sistema repressivo então vigente nos colégios da Polónia. Militante activa do movimento socialista, teve que deixar seu país em 1889 para não ser presa; em Zurique fez seus estudos sobre economia, concluindo essa fase de aprendizado com uma tese de doutorado sobre "O Desenvolvimento Industrial na Polónia".

A partir de 1894, juntamente com Leo Jogiches, Rosa Luxemburgo dedicou longo período de luta contra a visão nacionalista do Partido Socialista Polaco, assumindo a liderança na criação da Social-democracia do Reino Unido da Polónia.

Mas é a partir de 1898, com sua transferência para a Alemanha, que Rosa Luxemburgo se torna personagem destacada entre os socialistas europeus.

Nesse período participa numa das principais polémicas do movimento operário internacional, na medida que se contrapõe aos artigos de Eduard Bernstein, produzindo um competente e actual material contra o revisionismo e o reformismo, transcrito na obra "Reforma ou Revolução". Durante o período da polémica, Rosa afirma que, de facto, o movimento dos trabalhadores deveria lutar por reformas, mas que isso não bastaria para abolir as relações capitalistas de produção - o movimento operário jamais poderia perder de vista a conquista do poder pela revolução.

Outro momento importante na vida da militante Rosa Luxemburgo deu-se durante os primeiros anos no início do século, quando da discussão sobre a organização dos socialistas. Naquela altura polemiza com Lenine sobre a organização do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos. Na verdade, faz uma contundente crítica à sua proposta, expressa no conhecido texto "Um passo adiante, dois passos atrás". Em 1904 Rosa produz um texto sob o título "A Questão da Organização da Social-Democracia Russa", onde afirma: "O ultracentralismo defendido por Lenine aparece-nos como impregnado não mais de um espírito positivo e criador, mas sim do espírito do vigilante nocturno".

Há historiadores que afirmam que é a partir da revolução de 1905 na Rússia que Rosa Luxemburgo desenvolve sua teoria revolucionária. O certo é que sua publicação de 1906, "Greve de Massas, Partido e Sindicato", constitui-se até hoje numa das principais peças teóricas sobre partido e movimento de massas – "A revolução russa ensina-nos assim uma coisa: é que a greve de massas nem é 'fabricada' artificialmente nem 'decidida' ou 'difundida' no éter imaterial e abstracto, é tão-somente um fenómeno histórico, resultante, em certo momento, de uma situação social a partir de uma necessidade histórica".

Sua preocupação residia em desenvolver uma ideia estratégica, sem se afastar do compromisso com a revolução socialista, contra a inércia burocrática do Partido Social-Democrata, procurando vincular a greve às exigências transformadoras da sociedade, num desafio global contra a ordem capitalista. "A 'revolução' e a 'greve de massas' são conceitos que não representam mais do que a forma exterior da luta de classes e só têm sentido e conteúdo quando respeitantes a situações políticas bem determinadas".

É durante esse período (1903 a 1906) que Rosa desenvolve sua teoria sobre democracia operária, movimento de massas, sempre preocupada em dar respostas concretas às necessidades da luta de classes e, fundamentalmente, da organização revolucionária do operariado. Também é nesse período que seus adversários recolhem informações para caracterizá-la como espontaneísta. Logo Rosa, que, a vida toda, foi uma pessoa organizada. Mas isso não a impediu de afirmar que: "a massa não é apenas objecto da acção revolucionária; é sobretudo sujeito".

Durante a sua militância, Rosa Luxemburgo dedicou também tempo ao estudo académico, em particular ao desenvolvimento do capitalismo. Segundo alguns pensadores socialistas é nesse período que produz sua mais importante contribuição teórica, em particular à teoria económica, "A Acumulação do Capital", datada de 1912, onde desenvolve suas ideias sobre as origens e crescimento do capital, relacionando-as com o desenvolvimento histórico do sistema capitalista. É bom que se diga que é nessa obra que Rosa, não só disseca o fenômeno da reprodução do capital, mas também desenvolve sua compreensão e posição sobre o estádio imperialista do capital. Em tese desenvolve um amplo combate às posições revisionistas e adaptadas de teóricos ditos de esquerda, mas que empurravam a classe operária para os braços da burguesia.

Durante a primeira guerra mundial, Rosa Luxemburgo liderou as posições contrárias ao envolvimento da classe trabalhadora nesse conflito, esclarecendo seu caráter imperialista e, portanto, negando qualquer participação operária nessa guerra do capital. Quando em 4 de agosto de 1914 a bancada do Partido Social-Democrata (seu partido) votou a favor dos créditos de guerra, Rosa Luxemburgo disparou uma bateria de ataques à direção do partido que culminou com a publicação do texto "A Crise da Social-Democracia", também conhecido como "O Folheto Junius", publicado em 1915, no qual faz a seguinte afirmação sobre a guerra: "A demência não terá fim, o sangrento pesadelo do inferno não vai parar até que os operários da Alemanha, da França, da Rússia e da Inglaterra despertem de sua embriaguez, apertem fraternalmente as mãos e afoguem o coro brutal dos agitadores belicistas e o grito das hienas capitalistas no poderoso grito do trabalho – “Proletários de todo o mundo, uni-vos!"

No período em que esteve presa, Rosa Luxemburgo escreve, entre outros textos, o importante documento sobre a Revolução Russa de 1917. Além de esclarecer de uma vez por todas as convergências e divergências com as posições de Lênin, "A Revolução Russa", redigido no verão de 1918, constitui-se numa das principais obras sobre o socialismo no mundo. Enaltece a iniciativa revolucionária dos bolcheviques e destaca a importância da Revolução Russa no cenário internacional, mantendo, porém, sua concepção crítica sobre a violência revolucionária e a defesa da democracia proletária.

Mesmo presa, Rosa Luxemburgo não deixou da fazer política, seu núcleo de esquerda, do qual participavam entre outros Karl Liebknecht, continuou organizado dentro do Partido Social-democrata, até ser expulso; a bem da verdade, actuava com programa próprio (redigido por Rosa, em Janeiro de 1916) conhecido como "Princípios Directores" ou "Directivas". Esse núcleo foi historicamente conhecido como "Liga Spartacus". Em 1917 o Partido Social-democrata expulsou não só os espartaquistas como também um grande grupo de oposição. Esse grupo, do qual participa a Liga Spartacus, dá origem ao "Partido Social-Democrata Independente". Registre-se que a Liga se manteve organizada no novo PSDI, conservando sua organização e sua política.

Os espartaquistas permaneceram no PSDI até que este decidiu participar no governo. Em 29 de dezembro de 1918 a Liga decide fundar o Partido Comunista Alemão. É bom que se diga que a Alemanha vivia um autêntico período revolucionário (particularmente em Novembro e Dezembro de 1918 e Janeiro de 1919), com amplas greves, motins na marinha de guerra, soldados confraternizando com o Exército Russo, com insurreições operárias.

As autoridades mostravam-se impotentes para enfrentar as rebeliões; os conselhos de operários e soldados cresciam e fortaleciam-se. Em contraposição, o Partido Social-Democrata defendia desesperadamente a convocação da Assembleia Constituinte, numa clara posição em favor da ordem capitalista.

Por força do movimento social, que a cada momento "ganhava" as ruas, Rosa Luxemburgo é posta em liberdade em Novembro de 1918; sai da cadeia para reforçar a luta pela revolução socialista. Ao lado de Karl Liebknecht, aposta cada vez mais no movimento de massas, na greve de massa, dirigindo todas ações do então criado Partido Comunista Alemão. Postou-se claramente em defesa dos conselhos operários e soldados. Fortalecendo-os, dotando-os de destacado papel político na construção do poder revolucionário dos trabalhadores.

Enquanto socialista, Rosa Luxemburgo sabia mais do que ninguém que o futuro nos reservaria ou "socialismo ou barbárie".

Em 15 de Janeiro de 1919 Rosa Luxemburgo foi brutalmente retirada, juntamente com o companheiro Karl Liebknecht, do "aparelho" em que se mantinha clandestina e assassinada covardemente por paramilitares -reconhecidamente a serviço do governo social-democrata alemão. Um tiro levou sua vida, desapareceram com seu corpo, mas nunca conseguiram ofuscar a grandeza de suas ideias. Rosa vive entre nós!

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